
PROTOCOLO ELEFANTE
CENA 11 Quando um elefante se isola, isso quer dizer algo. E é importante. Afasta-se como proteção ao bando, para não fragilizá-lo, para não atrasá-lo. É como decide, a partir de seu distanciamento, estabelecer segurança e continuação aos demais. Simbolicamente, a morte que lhe cabe sozinho pode ser compreendida a outros como um fim coletivo e sua ressignificação a partir de outros paradigmas. Esse protocolo instintivo e natural não é nosso, é dele. Mas é consciente sobre o q

BLACK OFF
direção: Ntando Cele Se não houvesse pele, que limite seria imposto para diferenciar os corpos? Se não houvesse pele, o que inventariamos para discriminar uns aos outros? A cor dos olhos? Ops, o azul é rei. A ironia e o humor são arrebatadoras quando em vez de rir do outro o riso é de si e sobre si mesmo, sobre as condições impostas a si, sobre o destino fatal. "Black off" provoca um desconforto em todos. Ele desmistifica discursos prontos e domesticados. "Black off" foge do

MATELUNA
direção: Guillermo Calderón Como na vida, a tentativa de retomar algo precioso converteu-se na destruição do objeto valioso. A terceira-morte-não-intencional-de -Mateluna dá-se, mais uma vez, como elaboração cega do que este significa, é e produziu enquanto discurso. Com a tentativa de inocentar aquele que conscientemente há anos declarou-se inimigo do Estado e aliado do povo, temos em cena um panorama burguês, católico e mainstream. Se o primeiro passo de um guerrilheiro é j

A MISSÃO EM FRAGMENTOS: 12 cenas de descolonização em legítima defesa
direção: Eugênio Lima É proposto um jogo de montar estruturas cênicas e parti-las com canto, dança ou enfrentamento. Vemos um coro narrar as cenas como vultos imateriais de vozes que surgem e sobrevoam o projeto de descolonizar para , após o confronto com valores culturais excludentes, reconhecer quem se é, qual seu lugar no mundo e o funcionamento interno das sociedades. Através de uma direção panorâmica, sempre chocando a forma contra a forma, não faltam imagens de resistên

PARA QUE O CÉU NÃO CAIA
direção: Lia Rodrigues Inevitável não levantar questões estéticas, mas principalmente éticas de “Para que o céu não caia” da Lia Rodrigues Cia. de Danças. Nele, um é sempre bando, a força está no coletivo. Mesmo com coreografias em uníssono, a individualidade se destaca dentro do grupo. A unidade não surge pelo cumprimento de uma forma, e sim pela manutenção de energia. Estão ali juntos, pisando no mesmo chão. Por isso mesmo fica evidente a diferença de quando a aparição dos

BRANCO: o cheiro do lírio e do formol
direção: Alexandre Dal Farra e Janaina Leite A plateia visivelmente incomodada durante e ao fim da peça revela algo sobre a experiência do cheiro do formol. Talvez tenha sido a forma, em parte em diálogos de um "Beckett da série C" (e me refiro as questões desses diálogos, seu local, sem pejoração); ou talvez tenha sido o outro pilar do espetáculo, a revelação do processo, metateatro, a mea culpa dos artistas perante as pedras na mão, e o toque pessoal do autor. Ainda podem s

CAVALGANDO NUVENS
direção: Rabih Mroué Após violência, o protagonista deixa de distinguir realidade e representação. O mesmo, talvez enquanto procedimento, acontece com a peça que busca comentar, desdobrar e investigar uma lesão cerebral e seus efeitos. O performer persegue uma trilha de ações que ao invés desmistificar a experiência desta realidade distante, opta por fazer do público uma presença desimportante e remota. Posto que inventar é coisa rara na trajetória do sapiens, ao vermos um ar

POR QUE O SR. R ENLOUQUECEU?
direção: Susanne Kennedy O melodrama tipicamente revelado como um sistema de excessos, em que a representação sustenta a existência de todos os personagens, está sobremaneira inscrito em "Por que o Sr. R. enlouqueceu?", e como elemento notório, mais do que sentir, interessa mostrar o que sente. Ainda mais quando a fala se dá por uma classe social que se constrói cheia de limitações: a burguesia está fadada a não falar o que sente, por medo ou por imposição. Porém, o sistema d

REVOLUÇÃO EM PIXELS
direção: Rabih Mroué Que lugar "Revolução em Pixels" destina ao espectador? Não há como negar a importância do registro audiovisual de manifestações como instrumento para mobilização. Em tempo real, ele toma uma dimensão ainda mais profunda. O "ao vivo" alarga a impressão de imparcialidade, o "ver pra crer". Porém todo processo de registro é um processo de recorte do real e de escolha do quadro. Ao contrário do que propõe Rabih Mroué não acredito que o cinegrafista que filma

AVANTE, MARCHE!
les ballets C de la B direção: Frank Van Laecke, Alain Platel e Steven Prengels C de la BThe show must go on. A dor acumulada, a vida amorfinada, os pés de pé calados, show must go on. Toque de cor. Sempre toque de cor. A regra fluída, vir e ver do coração, vejam só também é lei. If music is food of life, play must go on. Os companheiros vão torcer mesmo que poucos, ainda velhas cheerleaders avant marche que todos chair leaders volonté marché, e sem esperar por mais Miniether

TÃO POUCO TEMPO
direção: Rabih Mroué Governos criam facções. Ficções. E estórias. Histórias. Sem a preocupação verossímil, exceto em queima de arquivo. Mas há uma memória que se queima em cada troca de bandeira, estátua ou nome de praça. Uma memória que se dilui como fotografia de tinta barata, tinta imediata, tinta de calor da agora popular (acento opcional) que grita e repete a manchete. Recuperar e contestar a história, em especial a revisão de mártires, nacionalismo e ideia de nação (e o