PROTOCOLO ELEFANTE
CENA 11
Quando um elefante se isola, isso quer dizer algo. E é importante. Afasta-se como proteção ao bando, para não fragilizá-lo, para não atrasá-lo. É como decide, a partir de seu distanciamento, estabelecer segurança e continuação aos demais. Simbolicamente, a morte que lhe cabe sozinho pode ser compreendida a outros como um fim coletivo e sua ressignificação a partir de outros paradigmas. Esse protocolo instintivo e natural não é nosso, é dele. Mas é consciente sobre o quanto nele existe de respeito e crise, e de respeito sobre as crises, que o grupo Cena 11 provocou-se igual ação. Cada um, isoladamente, foi refletir e buscar respostas próprias ao inteiro, olhar o coletivo como quem precisa de distância para percebê-lo e se perceber fora e dentro. Todavia, o que assistimos no teatro não é um fim. É a soma dos retornos dessas individualidades. Foi preciso criar outros paradigmas sobre si mesmos. Para tanto abriu-se à observação de três grandes artistas dessa geração: Wagner Schwartz, Michele Moura e Eduardo Fukushima. Contaminados de volta pelos ecos que o Cena 11 produziu nos últimos anos, gera-se, em Protocolo Elefante, um rito de renascimento, e não mais de morte. É pela presença do outro, então, que a transformação atua como reinício. E é na busca por ressurgir coletivo que os performers individualmente dançam, uns aos outros, em cada movimento do espetáculo. Ora o encontro é efetivo, em pares ou trios ou mais, contaminando-se com gestos que sobram aos movimentos, ora é o som, o lamento tribal que se estende a todos, criando a identidade única de sua voz múltipla e singular. Não é um espetáculo simples. É preciso perceber a importância do tempo na extensão de cada instante, e o quanto a permanência pelo observar se refere à insistência pelo próprio existir deles e nossas. Característica essa também presente nas obras dos três convidados, com grande ênfase sobre a importância de ser o tempo uma dimensão maior às experiências simbólicas. Outros valores surgem do convívio com tais criadores, como a narrativa do mínimo de Michele, o percurso como extensão do corpo de Fukushima e o excesso em corpo poético de Wagner, para citar apenas alguns. É possível encontrar ecos de cada um desses artistas o tempo topo, deixando menos literal suas intromissões, o que é agradável de assistir e inteligente como conceito; sem, ainda, que se percam os recursos tradicionais do corpo em queda, do impacto em estado de liberdade, dos rostos em faces construídas, e que definiram boa parte da linguagem do Cena 11. Como se estivessem um palmo acima do chão, em flutuação pelo sublime de uma busca que não é mais apenas física, e é também, a companhia de Alejandro Ahmed recupera o sentido de estar junto através do dançar mais até do que da dança. Com Protocolo Elefante, Cena 11 aceita a potência de um por vir e se afirma disponível ao desconhecido. Os elefantes, então, aprenderam a voar.
(crédito fotográfico não informado)
>> A revista Antro Positivo viajou a convite do Festival de Curitiba.