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Siete Grande Hotel

Texto e direção: Rudrifran Almeida Pompeu

Espaço Redimunho, SP

A rua entra, a cena sai, fica o teatro entre o mundo e a vida. Um jornal dramático. De pronto estamos entre a criação e a utopia, entre o possível e o acontecido. Império da cena em delírio visual, em versos talvez não complexos como é complexa uma tese, mas sinceros e articulados como o que de fato é - um acordo grupal. Uma frase acerca da periferia do mundo hegemônico. Resistência não só daquelas vidas, mas daqueles que resistem para além da vida e que deixam no mundo sua marca. Sua o-cu-pa-ção. Aprendi com a Júlia D'Hellemes que a arte é dêitico, aquilo que mostra, quase uma representação virtual da vida, portanto, nunca tratou-se de formular na imagem aquilo que se é no universo da realidade, contudo, antes das respostas; as perguntas, as buscas, um interrogatório que encontra seu clímax no achatamento das possibilidades de culpa ou absolvição. Mas tantas variações dentro do mesmo eixo, dentro da mesma área, possibilitaram que a arte do Redimunho fosse além do dêitico, e para além da exposição. A ação pontual e a vivência (ainda que viver nos cobre experienciar), convoca o grupo ao trânsito entre tocar-nos ou radicalmente aproximar-nos o máximo possível daquilo que desconhecemos. Redimunho evoca sabores, sons, temperaturas, formas de ser e estar.Através de personagens que oscilam em suas teatralidades, o grupo arquiteta uma pletora de visões. Tudo parece comentar o todo e ao mesmo tempo todos parecem inconscientes, vivem o mundo mas não tramam contra a vida. Percebem as opressões mas não combatem diretamente o opressores, ao contrário, impõem sua narrativa pessoal, sua lenda íntima contra as paralisias da vida. Isto faz com que sua energia vital seja maior que a energia contrária. Guerrear é dar-se em luta. Mas a luta exaure um pouco a trajetória da vida, faz do caminho uma exaustão que inviabiliza o caminho. Portanto, para continuar vivo e seguindo seu tempo, as personagens negam a guerra tradicional e dissimulam por outro viés. Dão a volta, saltam, sobrevoam, mostram que a vida vence a tirania. É preciso dizer que, mesmo pulsando uma ideologia, houve o bom gosto de expor isto enquanto ação. É preciso dizer que fazer teatro é isto. Organizar símbolos, embaralhar certezas e permitir leituras do mundo. Posição é uma coisa. Oferecimento de complexidade é outra. Que os grupos se inspirem nesta forma de adentrar o caos. E que o caos não nos desespere jamais.

foto Kátia Kuwabara

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