Paranóia
Poemas de Roberto Piva.
Interpretação de Marcelo Drummond.
Teatro Oficina - SP
Entre o ato teatral e a presença deslocada da ideia teatralizada, adentrando o público, o histórico e o cotidiano, vemos acontecer um Roberto Piva no centro da cidade. Produzindo enigmática atmosfera bem pautada por luzes e sons, variando por entre sentidos e empreitadas estilísticas, transitando entre o happening, o recital e o ato de sussurrar uma coisa amada no ouvido de ilustres amigos desconhecidos, sentimos uma imprescindível - PARANÓIA. Com força, acontece um Marcelo Drummond na Biblioteca Mario de Andrade. E o corpo acerta quando opta por não modificar seu eixo, ao negar a teatralidade padronizada, assim, naturalmente o corpo desperta a exata dinâmica dos versos. Então, sobreposto e sobrepondo um cenário organizado segundo acertada radicalidade visual, cria-se uma cena alocada no desbunde. Rapidamente somos adotados pelo ritual, temos nossa percepção reclamada pela presença, somos milimetricamente atingidos pela extrema racionalidade irracional que sibila por dentro das imagens de Piva. Marcelo Drummond constrói possibilidades para este tempo tecnocrata, inibido e acanhado. Marcelo pulsa, acolhe, exercita violência e epifania, mostra-se como um Dionísio a um só tempo cruel e sedutor. Quando somos capazes de encontrar a joia rara parada no centro da despretensão, organizando o vulgar ao lado do banal, sem com isto parecermos desimportantes, invariavelmente encontramos sustentação para arquitetarmos um comentário mais amplo acerca do repertório humano. O recurso da vulgaridade está contido por entre rigorosa metodologia. O método é livre, "safo" e peralta, indomável por vocação, abusado por excelência. Correr atrás de epifanias não é uma busca elitizada. Torna evidente apenas o resultado do simples ato de ouvirmos a célebre frase de Leonardo da Vinci. Afinal, ainda é possível encontrarmos na simplicidade o último grau da sofisticação...
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