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Imortais

Texto: Newton Moreno

Direção: Inez Viana

Sesc Consolação - SP

O autor ou autora que for capaz de decompor este tempo em cenas, que hoje configurar um teatro que possa esquematizar as necessidades da arte contemporânea brasileira, certamente será lembrado(a) como alguém que reorganizou o teatro deste começo de século. Qual teatralidade podemos instaurar, quando a política contém as melhores personagens? Qual ficção se pode adequar ao povo que se fragmentou em 500 causas sociais e 500 seriados estadunidenses? Como dizer? Quando, como, onde dizer? E para quem e por quê dizer? Quando o texto apresenta tão poucas qualidades, vemos eclodir o momento em que a técnica surge eclipsando a criação. Se o texto apavora, os intérpretes pegam seus botes e remam até as zonas de conforto. A dramaturgia atordoa as possíveis nuances do elenco e faz questão de inundar cada canto do palco. Rocambolesca e risivelmente trágica, refém de reviravoltas que não mais se adequam ao olhar treinado do público contemporâneo, a dramaturgia, infelizmente, determina o tom da montagem. E, ao invés de vermos teatro, assistimos, não sem positivo gosto, o estado de virtuose de Denise Weinberg. Denise Weinberg luta para compor uma figura com dimensões para além do texto; cada um de seus gestos coreografa experiência, coerência, sabedoria cênica. Sua ascendência (Michele Boesche) segue o mesmo viés e a tônica funciona. Mas nem isto torna Imortais um trabalho saboroso. Muitas possibilidades ficam escancaradas, desde uma tomada de consciência da direção com relação ao texto, até uma possível revisão da dramaturgia. O cenário também perde brilho conforme os minutos avançam. Talvez não tenha havido um primeiro acordo capaz de unir a equipe em uma mesma direção estética. Cada um dos elementos parece seguir sua disparada em uma direção insuspeita pela seguinte área. Mesmo com a dramaturgia servindo como âncora para todo o resto da montagem, fazendo a obra estagnar em um exercício retórico pouco plausível, talvez fosse possível, se todos embarcassem no perigo do desastre, encontrar um estilo, um jeito, uma forma de resultar em teatro esse texto de Newton Moreno. É certo que a obra nos faz questionar a metodologia de ensaio, bem como a curadoria dos espaços e as motivações estéticas dos autores. Muitas questões surgem, quando encontramos tão grandes artistas esbarrando em ultrapassadas demandas do fazer teatral.

foto João Caldas

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