Poema Suspenso para uma Cidade em Queda
Texto: Verônica Gentilin
Direção: Luiz Fernando Marques
Cia Mungunzá
Caixa Cultural
O funcionamento material da cena, ativado pela rigorosa partitura executada (em grande parte) pelo notável, excelente e polivalente Pedro Augusto, alcança o contrário do que se entende que sejam as intenções do trabalho.Tudo aquilo que se apontou como investigação do micro-universo-particular das personagens desaba quando a pertinência material impõe a narrativa do maquinário cênico acima do enredo, das contradições, do que poderia a luz narrar.Se há documentários onde a simplicidade formal dá-se no ligar da câmera e no ato focá-la nas personagens e locações, poder-se-ia dizer que como solução para este apático procedimento há sempre o encontro com personagens que rompem as expectativas, e são estas personagens que brilham e acabam trazendo na presença algo que colore as cenas com a textura insuspeitada do lirismo profundo. Mesmo diante de uma forma épica por vocação, efeito natural dos documentários tradicionais, a obra não está fadada a produzir tédio.Assim dito, a peça acaba por configurar um anti-Edifício-Master (Coutinho). Ou seja, o brilho acontece na forma sem relegar fôlego algum para os lirismos em questão. Um das falas da peça, contida na correspondência entre as personagens, carrega na pergunta retórica a solução para a ineficiência do trabalho em produzir sentidos através da fala. "O que você espera? Que as coisas mudem com palavras ?" Sim. Fiquei esperando palavras transformadoras enquanto a montagem recebia nota máxima e menção honrosa em cenário, operação e composição da cenotécnica.
foto Mariana Bêda