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O leitor


de Alexandre de Angeli (São Paulo)

Praça das Artes | SP | 15/11/16

Considerações sobre o tempo. E as palavras no tempo. Um Graciliano aparece. Tem Vidas Secas. A obra tem vida, mas a contagem do tempo, em uma ampulheta, é seca. Uma Hilda Hilst aparece. Ele abre a página, como num golpe de sorte, gira a ampulheta e se põe a ler. A fluidez da leitura é muito particular. É dele e não é afetada pelo tempo que corre. A areia na ampulheta suga o tempo que se tem a dedicar àquelas letras, àquela página. Contudo, não é o leitor que decide, mas a ampulheta que determina até que ponto a leitura deve seguir. São fragmentos que, no todo, formam uma história. A areia grafitada esconde os livros que disponíveis para aquele leitor. Ele tem que descobrir. Ele encobre e descobre. No final das contas, o ato de ler tem, em essência, o ato de descobrir. O tempo, que nos engole, encobre possíveis descobertas. Encobre o tempo de desnudar e formar o conhecimento. Um Fernando Pessoa. Desassossegado. Ele age a partir da ampulheta. Uma ação e reação provocada pela passagem do tempo. Um Cortázar no meio daquela areia grafitada surge. O jogo da amarelinha. Ele propõe uma nova forma de leitura. Aquela superficial, que muitos, por falta de tempo ou interesse, se entregam. “Você leu Cortázar?”. “Sim”. “Qual a parte que mais gostou?”. Não há mais tempo. 1, 2, 3, 4, ele vai enunciando os capítulos, mas não lê. Ao mesmo tempo que interrompe raciocínios, guarda quase um respeito devotado pelo início e o fim. Recomeça. Revê. Revisita. As leituras são entrecortadas. Assim como o tempo, que fragmenta a fluidez da vida.

crédito fotográfico não informado

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