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Exercícios para construção de narcisismos


de Raphael Couto (Rio de Janeiro)

Praça das Artes | SP | 15/11/16

Ele convida as pessoas a realizarem registros dele mesmo e, juntas, darem a ele a exata noção de como é visto. O narcisista é auto-referente e se preocupa com a imagem que o outro tem dele. Só por isso é narciso. Se fosse uma auto-preocupação representaria uma avaliação dele para ele. O paradoxo do narciso é justamente esse: ele diz que se basta, mas depende da avaliação do outro, de como o outro o enxerga para que viva em paz. E a performance propicia exatamente o exercício desse paradoxo. Ao dar ao outro a liberdade irrestrita para definir em imagem como ele é, o performer admite ser exposto ao papel de ridículo. Mas a necessidade narcísica de se colocar no centro das atenções supera o papel de ridicularizado que, vez ou outra ou quase sempre, ele passa. De certa forma, o exercício do narcisismo praticado à exaustão nas redes sociais é, no limite, o se expor e admitir ser ridículo. É claro que youtubers e instagramers não se acham ridículos. Pelo contrário, se acham a última bolacha do pacote. E são endossados pelas milhares de curtidas e elogios, mas na mesma medida não sabem lidar com críticas. O que importa é a opinião deles sobre eles mesmos e encontrar, no vasto mundo virtual, grupos que endossem essa visão. Pronto: está aí a receita para a manutenção do narciso. E, sem dúvida, o local onde essa prática mais se manifesta é na internet, nas comunidades, no facebook, no youtube e no instagram. Quero ser visto, quero ser lembrado, quero ser amado. Ainda que seja apenas um ridículo.

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