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Panorâmica


Texto e Direção: Renato Andrade

Elenco: Eduardo Pelizzari, Lucas Romano e Mateus Monteiro

Dramamix SP Escola de Teatro | 14/11/16

A arte que olha para seu tempo com olhos capazes de dissecar as relações do presente está próxima de um feliz encontro com o que vale a pena ser dito. Os episódios da vida de um desesperançado cantor de música sertaneja revelam os limites que se impões ao seu cotidiano e vida, o autor elabora um ligeiro e bem traçado panorama do contemporâneo – lugar onde somos o que não optamos ser e vivemos, numa deriva incontrolável, boa parte daquilo que resistimos em negar. O que alguém pode enunciar sobre sua própria realidade, geralmente corresponderá a uma antítese utópica de sua própria condição.

A luz, capaz de fazer do palco metáfora para “lugar” e “exame de consciência”, a leitura ganha paradoxos quando temos reveladas as construções cirúrgicas dos atores. Especial brilho para o jovem garoto de programa e o momento em que vemos ruir sua relação “passivo agressivo” com seu cliente inconveniente. Também acerta no tom, de macho obstinado em alçar vôos até lugares invejáveis, o empresário inescrupuloso.

O texto pode não agradar ao introduzir elementos do presente que soam forçosos quando relacionados com as opções formais da dramaturgia, desagrado que é vencido quando o texto passa a apresentar conflitos que habilmente esganam-se até não mais haver refúgio onde o protagonista possa tomar fôlego balsâmico.

A clareza dos diálogos e o ritmo dinâmico levam as situações até lugares mais singulares que o ponto de partida, e funcionam como agradável fio para que o espectador acompanhe não apenas a história, mas sim os trajetos psicológicos do protagonista ruindo a cada passo que esboçado.

Penso ter assistido ao 1º tratamento de uma dramaturgia se pretende responsável e crítica e espero que o autor reforce as linhas de tensão estabelecidas já nesta abertura.

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