Sem título
Jasna Prado (Chile)
Praça das Artes | SP | 14/11/16
O casal invertido. Lembrei de uma outra performance nesse mesmo festival, no ano passado. As roupas pretas e brancas, o rosto de um que se compõe com o corpo do outro. Lá, espelhos que provocam essa reconstrução. Aqui, vídeos projetados em tablets. De toda forma, duas performances que se dialogam, que propõem corpos com limites e contornos alargados. Poderia me ater nas reflexões sobre virtualidade, ciberespaço e as suas implicações nos corpos. Mas de alguma maneira, me parece que mais do que tentar justificar o que vejo, o exercício é ater-se ao que acontece diante de mim. E, de alguma forma, fico entusiasmada com a constatação de que à medida que aqueles dois corpos se movem diante de nós, nos movemos junto para mantê-los sempre de costas à gente. É que os seus rostos virtuais estão na nuca e, permanecendo na nuca, estamos sempre postos atrás deles. E, então, eles deixam suas cabeças-caixas-virtuais-programadas, se despem e saem nus. Deixando aqueles rostos plantados no chão, acima das roupas. E, infelizmente, constatamos: não há mudança nenhuma em seus semblantes. É tudo programado. Tudo está em looping e permanecerá até que a bateria acabe ou alguém recolha as sobras.
foto Ana Carolina Marinho