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Eu Fracassei


Victor de La Rocque (PA)

Praça das Artes | SP | 14/11/16

Eu, fraca, sei. Eufra, ca sei. Eu fracassei. E estampo toda essa constatação diante de todos. Mas, principalmente, diante de mim. Victor de La Roque expôs o sujeito e o verbo em espaço público. A faixa, pelo que soube, seguiu e seguirá por outros tantos lugares. A provocação não depende da geografia: todos nós fracassamos. Mas no que EU fracassei? Por que esse verbo abriga tanto peso e malogro? Como pode uma palavra provocar tanto incômodo? Eu fracassei impõe ao sujeito de pronome pessoal do caso reto da primeira pessoa do singular toda a responsabilidade pelo ato. E tenho me dado conta do quanto é difícil esse tipo de constatação: preferimos sempre que o outro, ou o predicado, tome para si a responsabilidade. A frase poderia ser, para nosso conforto, eu fui vencido. Mas a inquietação é que não sejamos vozes passivas, mas ativas, inclusive de nosso fracasso, que inclusive, não cabe de forma alguma na voz passiva. Ninguém é fracassado por outro, apenas por si mesmo. E, para meu espanto, muitos posam com sorrisos largos diante da frase, da mesma forma que fazem diante de “I amsterdam” ou das esculturas dos bandeirantes assassinos expostas pela cidade de São Paulo e só consigo pensar no quanto a arte se dociliza tão rapidamente em espaço público e se torna mural para uma boa selfie.

foto Ana Carolina Marinho

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