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Você consegue, Balthazar!


Texto e Direção: Michelle Ferreira

Elenco: Maura Hayas e Rodrigo Fabbo

dramamix

SP Escola de Teatro | 13/11/16

A sala está escura, os atores sentados, pouco público. Uma voz anuncia: “conversem, vão achar que é uma peça séria, vocês não tem mais nada para falar?”. Sinto um aperto como se não devesse estar ali, naquele momento, àquela hora. Alguém abre a porta, conduz outros tantos espectadores às cadeiras. Ouço os atores se questionando se mais alguém vai chegar ou se já devem começar. A pessoa que abriu a porta dá um “ok” e vai embora. Sinal, para os atores, de que aquilo responde à inquietação anterior. Eles começam. Quer dizer, começa você, Balthazar! Balthazar, ainda que tímido, inicia. As luzes não seguem o mesmo ritmo. A mesma voz se faz presente novamente “não era pra ter começado”. E o aperto me toma novamente. Aquilo é cena? Os atores, ansiosos, se justificam, explicam sobre o sinal emitido pela pessoa que abriu a porta, não adianta. A voz foi pega de surpresa e, por isso, precisam recomeçar. Lá fora, um evento overdose acontece e ele tem reflexo aqui dentro. Aqui, uma conversa banal sobre o furacão de acontecimentos na praça. Balthazar, antes tímido, revela-se um homem cheio de sufixos “ista”: dentista, machista, fascista. Ela, antes segura, mostra-se acuada, intimidada. Tudo que antes era dito para e por Balthazar ganha novas temperaturas, novos significantes. A dramaturgia se instaura como uma sequência complexa de possibilidades. Cada frase abriga um universo de contradições. “Você consegue, Balthazar” passa de uma motivação amigável, para uma afirmação de poder e dominação. Cuidado, alerta ela, Balthazar tem muito ódio dentro de si e segue por ai em busca de outras pessoas nesse evento overdose. Apesar de tudo, ela voltou várias vezes aqui. Nenhum Balthazar há de paralisá-la novamente. Se aquela voz faz ou não parte da encenação, desconfio. Mas suspeito que tudo ficou muito mais interessante e provocante com ela.

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