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Golpista!


Texto: Fabio Brandi Torres

Direção: Emerson Coutinho

Elenco: Alle Denardini, Karina Alencar, Gutto Ordoz, David Weldefilm e Luana Fioli

dramamix

SP Escola de Teatro | 12/11/16 | 23h30

“Nasce um otário a cada segundo”. Essa frase, assim, solta, no meio da peça, pode passar com gratuidade, mas guarda a essência do que seria um contexto de um golpe de qualquer natureza. Diante do momento político que vivemos, é impossível desconsiderar a analogia entre a negociata do circo e as relações escusas dos poderes. E aqui digo os – no proposital plural – porque um golpe só acontece porque existe o desejo, a vítima e a platéia, que pode endossar ou questionar. No caso da segunda opção, o golpe pode até ir por água abaixo. As coligações na vida e na política darão o tom e a eficiência das relações entre as figuras necessárias ao golpe. A escolha da figura do palhaço e picadeiro ficou desgastada pelo uso. Quem é verdadeiramente o palhaço: os golpistas ou os golpeados?

Dada a cena, dada a relação causal com a realidade, são saborosas as alusões diretas ao momento político: as porcentagens exigidas por cada achacador, a noção embaçada sobre quem está falando a verdade, as versões nunca checadas, a desqualificação da denúncia perante a justiça, a letargia da platéia – que aqui poderia ser da sociedade –, a chancela da impunidade. Tantos elementos para serem explorados, tanta história para ser contada, tanta ironia para ser marcada, a figura do juiz, que no caso do golpe se coloca como fundamental, algo como o fiel da balança, em determinadas definições a única possibilidade de (in)justiça, de tanto escracho se perde no desfecho. Embora não se faça fundamental tampouco desejável uma conclusão, seria incisiva a construção da justiça como o grande detonador da impunidade. Impunidade essa que não gera um golpe, mas faz com que ele se desenhe como algo legítimo e que nunca será.

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