O Fã
Texto e direção: Mauro Ferreira
Elenco: Ariadne Senna e Luan Carvalho
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12/11/2016 | 19 horas
Quando dinheiro não é problema, o que substitui a questão? A Cultura, a gazeta fm, a credibilidade?
A maior tragédia da vida seria ver coisas inesperadas? A maior agressão (psicológica) à que estamos sujeitos seria... Vivermos para assistir a todas as nossas expectativas perdendo força!
O problema não é o dinheiro! O problema é que você se vendeu! Que tempo é este onde os súditos cobram qualidade ideológica de seus reis?
Todos fazem, eu sei, mas você que é você, que é alguém para mim, você precisa ser melhor! Eu preciso alçar voô partindo da pista dos teus acertos. Tua perfeição me eleva. Teus defeitos me tombam, sinto dor e miséria, preciso matar ou morrer - MELHORE!
Marc Chapman mata seu ídolo e fica nu. Nas imediações do crime abre um livro e fala com o Diabo. Aqui, o fã, potencial assassino, através da ação que dribla a violência fisica, ainda é capaz de ultrapassa a metáfora da nudez e, ativamente, desnudar seu objeto para tomar sua forma material. O vestido é simulacro para nova persona. Quer reencarnar quem ainda vive.
Colado neste paradoxo, cantar em cativeiro é caber na boca da gaiola.
Surge aqui o único procedimento que a direção propõe. Este acerto foi capaz de ultrapassar o drama e re-configurar sua forma dialógica tradicional, este encontro entre cena e dramaturgia aponta para a mais poderosa intenção do texto (imaginando que se queira um trabalho pautado na contradição radical das personagens ali colocadas em situação).
Quando o texto sintonizar a frequência do momento em que a refém se faz a própria voz do opressor, sem abrir mão da beleza estética do canto, estaremos diante (e dentro) das sutilezas mais contemporâneas e potentes que a dramaturgia apresenta.