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Sexta peça


Enfim, chegou o momento. Aceitamos os convite e lá fomos nós para o Schaubühne. No caminho, boates, sex shop, um entorno mais real e menos turístico, quando olhado para o lado contrário às lojas de grife. Sempre que um teatro ocupa espaço em lugares assim, os frutos são mais inquietos. O entorno provoca o teatro que se coloca como provocação ao entorno. Fato. Chegamos. No teatro descobrimos cerca de duas dezenas de peças em repertório. Algo inacreditável no Brasil. Sabíamos dessa rotina, mas vê-la estampada na nossa cara oferece outro impacto. Sabíamos, pois entrevistamos para a Antro Positivo o Thomas Ostermeier, diretor artístico do complexo de teatros em Berlim, uma das casas mais importantes da cena contemporânea, há cerca de três anos, em uma conversa ótima e franca que a sempre gentil Isabel Hölzl nos ajudou como intérprete. Isso no Goethe de São Paulo. Hoje, curiosamente, é o Goethe de Porto Alegre quem nos permite visitar a criação, ainda que o espetáculo em questão não seja com direção dele. Hora de entrar em uma das três peças que se apresentarão somente nessa noite. Na imensa sala alternativa, o espetáculo Ungeduld dês Herzens surge sem facilitar nada. São duas horas necessárias de uma experiência radical, profunda, sobre a história da Alemanha que nunca se encerra ao ser revista. Da Prússia à Alemanha, muito existe que reverbera nos dias de hoje. E os excepcionais atores sabem como poucos lidar com tantos labirintos da passagem do tempo. Saímos do teatro maravilhados, entusiasmados, querendo voltar todos os dias ao Schaubühne. Mas não dá. Não todos os dias, porque no domingo o convite pra retornamos já está aceito e lá estaremos pra certamente mais uma experiência inesquecível.

Foto: Gianmarco Bresadola

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