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Dois homens lidam com diversos acontecimentos, enquanto são surpreendidos pela possibilidade de estarem interligados por algo inevitável. A peça intercala momentos poéticos e retóricos, e olha ao sujeito consequente ao como lidamos com a história. Por isso, possível de ser representado pelo teatro,mas, sobretudo, como presença performativa.

Fotos da primeira montagem do texto em teatro: Teatro do Bairro, em Lisboa. 
Encenação: Ruy Filho  I   com Cassiano Carneiro e Chico Diaz.

OPINIÃO

“Encerrou temporada hoje no Teatro do Bairro o espetáculo “Inevitável”, escrito por Ruy Filho, idealizador da revista ANTRO POSITIVO e autor e crítico teatral que somente há pouco mais de um ano conheci por meio de seu trabalho junto ao Festival de Almada, mais especificamente quando assisti a uma parte da conversa que ele teve com o ator Rui M. Silva acerca do espetáculo “A Equipa”. Depois vim a saber que o Ruy já tem longa estrada no meio teatral, tendo trabalhado com grandes figuras do teatro brasileiro, especialmente com o imenso José Celso Martinez Corrêa, além de fazer um trabalho de crítica teatral com uma consistência e uma profundidade difíceis de se encontrar.

“Inevitável” é uma peça muito interessante, uma experiência teatral que vai sendo alterada a cada sessão com a introdução de um tema novo a cada dia, apesar de manter a estrutura sobre a qual a montagem está alicerçada. Só esse detalhe já seria o suficiente para despertar a curiosidade de quem gosta de teatro para que fosse assistir à encenação.

Mas o texto propõe e cumpre muito mais, ao colocar em discussão a ideia de objetividade que domina o hoje, afundando a todos, ou quase todos, numa mediocridade alarmante, sem darmos conta disso. Em nosso dia a dia, colocamos de lado a possibilidade de um pensamento maior, de uma reflexão mais elaborada, de uma autocrítica que alargue a percepção que temos sobre os nossos sentimentos, as nossas atitudes, os nossos gestos cotidianos, embotados que estamos pela pressa que nos impele a seguir sem pensar, pela falta de sutileza nas relações, pela ausência cada vez maior de humanidade. Enquanto isso, acontecimentos vão se sucedendo e não conseguimos nem mesmo verbalizá-los. Enxergar a poesia que pode estar contida nesses acontecimentos, e que poderiam trazer um pouco mais de significado a eles, é matéria rara.

Em cena estão dois personagens acerca dos quais nada sabemos: não se sabe quem são, o que fazem, não temos qualquer referência sobre eles. Para dar vida a esses personagens enigmáticos, estão em cena dois grandes atores brasileiros, Chico Díaz e Cassiano Carneiro, ambos em atuações primorosas. Trabalhando em cima de diálogos que permanentemente vão se sobrepondo uns aos outros, algumas vezes se complementando e em outras trazendo a ideia de oposição, os atores realizam um trabalho soberbo, impecável e com ritmo preciso, valorizando cada intenção e cada variação contidas no texto. O que vemos é o pleno domínio da cena pelos artistas. É um grande prazer assistir ao “bate bola” entre Chico e Cassiano, apoiados pela direção segura do Ruy Filho, pela ótima iluminação de João Veloso* e pelo excelente e estimulante desenho de som de António Oliveira, criando uma atmosfera sonora que muito contribui para o clima enigmático da peça.

Estão de parabéns todos os que formam a equipa desse espetáculo criativo e desafiante. Não sei se haverá digressão por Portugal ou se há a intenção de apresentarem no Brasil. Penso que seria uma ótima oportunidade de mostrar um trabalho de muita qualidade artística.”

MARCELO COSTA

 

* Iluminação: Ruy Filho e João Veloso

 

fonte: https://encurtador.com.br/yW6zO

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