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Sem título | Mauricio Vargas


de Mauricio Vargas (Chile)

Praça das Artes | SP | 15/11/16

Um compasso. O umbigo está no centro. Ele marca no chão com gesso a imagem a partir do comprimento dos seus braços. Um círculo inscrito e os dizeres: Pasaje Infinita. Mais literal impossível, já que, tão óbvio se desenvolve o discurso, de que um círculo não tem começo nem fim. Ele simplesmente é. O artista se levanta e segue até dois sacos de cal. Ergue e quase como um resignado segue entornando o pó no chão. Uma parte ao tocar o chão se dissipa. A outra permanece. A cal degenera a carne e, nessa perspectiva, pode ser considerada um elemento transformador. Algumas pegadas ficam marcadas na cal espalhada no chão em linhas, formando um caminho. O importante não é o caminho, é o caminhar. Mais uma vez, resignado, ele termina com mais um saco de cal. As roupas, antes pretas, vão se tingindo de branco. Além de marcar o chão, a cal coloca uma etiqueta na função social da pessoa. Aquele rapaz sujo de cal, o que seria? Um pintor? Um servente de pedreiro? É repugnante para o nariz a poeira da cal. O quanto desejamos ficar marcados pelas experiências ou pelo status quo que representamos? O quanto a paisagem é mesmo infinita? O quanto – ou melhor, até quando – o que fazemos em vida fica marcado para a eternidade? A gente precisa de marcar ou marcar o outro no plano físico para, assim como a paisagem, se tornar infinito? Não penso que seja possível. Mesmo os círculos, onde não está muito bem claro onde é o começo e onde é o fim, se encerram no movimento. Ainda que registrados, não são infinitos. Sugiro água para apagar as marcas. Mas, em contato com a cal, a água a transformaria em gesso. Dessa forma, sim, pode-se criar um movimento infinito.

Foto Maria Teresa Cruz

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